ATA DA QUADRAGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 26.11.1998.

 


Aos vinte e seis dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e quarenta e dois minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Jayme Caetano Braun, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 70/98 (Processo nº 1507/98), de autoria do Vereador João Carlos Nedel. Compuseram a MESA: o Vereador Isaac Ainhorn, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; a Senhora Margarete Costa Moraes, Secretária Municipal da Cultura, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; a Senhora Aurora Ramos Braun, esposa e representante do Homenageado; o Senhor Porfírio Peixoto, Presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor Nilo Bairros de Brum, representante do Procurador-Geral de Justiça; o Delegado José Henrique Moreira Alves, representante da Secretaria de Justiça e Segurança; o Tenente Jair Roberto da Rosa, representante do Comando Militar do Sul; o Senhor José Alberto Pinheiro Vieira, Secretário de Administração da Prefeitura de São Luiz Gonzaga; o Senhor Euclides Fagundes Filho, representante da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Rio Grande do Sul; o Padre Amadeu Gomes Canellas, representante do Arcebispo de Porto Alegre; o Senhor Wilson Müller, representante da Associação Riograndense de Imprensa; o Senhor Pompeo de Mattos, Deputado Estadual; o Senhor Caio Flávio Prates da Silveira, Presidente da Estância da Poesia Crioula; o Vereador Reginaldo Pujol, 3º Secretário da Casa. Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças do Senhor Jorge Krieger de Mello, representante do Conselho de Cidadãos Honorários da Cidade de Porto Alegre e Presidente da Associação Cristóvão Colombo; da Senhora Margarida Cassales, representante da Associação dos Jornalistas e Escritores do Brasil; do Senhor Norberto Castro, representante da Casa do Poeta Rio-Grandense; do Senhor Jorge Luís Cidade Lopes, representante do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças; do Senhor Hugo Ramirez, representante da Academia Rio-Grandense de Letras; dos Senhores Luiz Coronel, Alcides Vargas Cheuíche e Vasco de Melo Leiria, Mozart Pereira Soares e Miguel Graff de Vargas. Também, o Senhor Presidente registrou a presença do Senhor Raul Pont, Prefeito Municipal de Porto Alegre, o qual teve de retirar-se face compromissos anteriormente agendados. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional, informou que o Homenageado não pode comparecer em razão de determinações médicas e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador João Carlos Nedel, em nome das Bancadas do PPB, PTB, PSDB, PMDB e PSB, analisando a importância da obra do Senhor Jayme Caetano Braun, destacou a justeza do Título hoje entregue, como o reconhecimento do povo de Porto Alegre ao trabalho aqui realizado pelo Homenageado e ao carinho e amor pela Cidade sempre por ele demonstrados na sua atividade artística. O Vereador Elói Guimarães, em nome das Bancadas do PDT e do PT, discorreu acerca da obra poética do Homenageado, destacando a importância de uma maior divulgação e valorização da cultura gaúcha e afirmando que a poesia do Senhor Jayme Caetano Braun torna-o não apenas cidadão porto-alegrense e brasileiro, mas, sim, cidadão universal. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, declarou ser a Cidade de Porto Alegre um epicentro do processo cultural e histórico da memória do Estado, o que ressalta a necessidade do reconhecimento da obra e da atuação do Senhor Jayme Caetano Braun, como representação do falar gauchesco na arte rio-grandense. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, registrou sua alegria por participar da presente solenidade, relatando a sensação de retorno às raízes provocada pela poesia do Homenageado e relatando ser essa obra a expressão profunda da coragem e do amor pela terra sempre demonstrados pelo povo gaúcho. Após, foram apresentados números artísticos pelos Poetas Thereza Cavalcanti e José Machado Leal. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou o Vereador João Carlos Nedel e a Senhora Margarete Costa Morais a procederem à entrega, à Senhora Aurora Ramos Braun, do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Jayme Caetano Braun. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Senhora Aurora Ramos Braun que, como representante do Homenageado, agradeceu o Título hoje entregue pela Casa. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às vinte e uma horas e vinte minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Isaac Ainhorn e secretariados pelo Vereador Reginaldo Pujol. Do que eu, Reginaldo Pujol, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Temos a honra de declarar aberta esta Sessão Solene que destina-se a conceder o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao ilustre rio-grandense Jayme Caetano Braun, nos termos do PLL nº 070/98, de autoria do Ver. João Carlos Nedel.

Esclarecemos a todos os senhores que o ilustre homenageado não pôde se fazer presente em razão de absoluta e rigorosa determinação médica.

Convidamos a integrar a Mesa a esposa e representante do homenageado, Sr.ª Aurora Ramos Braun.

Convidamos, também, a integrar a Mesa o Presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Porfírio Peixoto; o representante do Procurador-Geral da Justiça, Sr. Nilo Bairros de Brum; o representante do Secretário de Justiça e Segurança do Estado, Delegado José Henrique Moreira Alves; o representante do Comando Militar Sul, Ten. Jair Roberto da Rosa; o Secretário de Administração  representando a Prefeitura de São Luiz Gonzaga, o  Sr. José Alberto Pinheiro Vieira; o Dr. Euclides Fagundes Filho, representando a OAB – Seccional do RS; o Padre Amadeu Gomes Canellas, representando o Arcebispo de Porto Alegre; o Dr. Wilson Müller, representando a Associação Riograndense de Imprensa e o Deputado Estadual e Deputado Federal eleito, Dr. Pompeu de Mattos.

Convidamos a todos para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

(Aparte inaudível.)

 

O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Esta Presidência redime-se desse lapso e tem a honra de convidar para integrar a Mesa, acatando o aparte recebido, o Sr. Caio Flávio Prates da Silveira, Presidente da Instância da Poesia Crioula.

Gostaríamos de evocar, aqui, as palavras de um outro gaúcho, referindo-se ao nosso poeta maior: “O Jayme não é uma lenda, eu conheci esse cantor”. Isso foi dito, na Páscoa de 1979, por Mozart Pereira Soares. Essa breve manifestação expressa todos os sentimentos que temos.

Concedemos a palavra ao autor desse Projeto, Ver. João Carlos Nedel, que falará pelas Bancadas do PPB, PTB, PSDB, PMDB e PSB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Como, lamentavelmente, Jayme Caetano Braun não pôde estar presente, vou falar a vocês todos, que são amigos dele, que têm um pedacinho de Jayme em cada um de nós, e que vão todos se integrar a Jayme Caetano Braun para homenageá-lo neste momento, ele, que está em sua residência, acamado, impossibilitado de estar aqui e que, tenho certeza, é muito importante para ele. (Lê.)

“Cidadão de Porto Alegre, Jayme Caetano Braun!

De que matéria foi feito esse homem que se distingue dos outros, guasca cerebrino, tropeando versos e rimas de invulgar beleza, que escorrem cascateantes de sua pena ou de sua boca, como estivessem à espera da oportunidade de se espraiarem, felizes porque libertas, ao largo das margens da poesia e da arte de encantar?

De que matéria é feito este cuéra, que se apodera do verbo como se fosse coisa exclusiva sua, com a facilidade do que é simples e com o esmero do que é complexo, retratando sonhos e lembranças que espelham a alma de cada um de nós, que trazemos, imarcescível, a marca farroupilha gravada fundo, no coração?

A resposta nos vem da sabedoria de Deus que, num pedaço do mesmo barro de que construiu cada um de nós, deu um sopro especial de vida, chamou-o Jayme Caetano Braun e lhe conferiu a virtude e o carisma do absoluto domínio sobre as palavras e as idéias, mas que lhe atribuiu, ao mesmo tempo, a missão irrecusável de alegrar e encantar os ambientes e as pessoas, não só nos momentos de convívio, mas deixando-lhes um registro que transcendesse o tempo e o espaço, permanente e amplo até os limites da própria imaginação humana.

E fez mais, o Criador. Escolheu para fiéis depositários dessa vida singular o seu João Aloysio e a Dona Euclides, que souberam muito bem se desincumbir dessa missão e deram àquele piá destorcido, esperto e estrabulega o rumo que haveria de fazer dele o Jayme que hoje todos admiramos, queremos bem e de quem nos orgulhamos muito.

Contam as histórias que rolam por aí que, recebido o sopro especial do Criador, a massa de barro que se transformou em Jayme aceitou, sem pestanejar, a virtude e a missão que o Patrão Velho lá de cima lhe conferiu.

Mas fez uma exigência, que era condição “sine qua non” para levar avante esse projeto: Jayme queria nascer no Rio Grande do Sul, mais precisamente em São Luiz Gonzaga.

Eu não sei bem se acredito, mas dizem que fez isso já em versos, mais ou menos assim:

‘Patrão Velho me desculpe/Se lhe faço uma exigência/Para agüentar o repuxo/Desse seu pealo divino.../Quero nascer na querência./E ter alma de gaúcho...

Que o Senhor me dê a graça/De nascer entre a fumaça/Do chimarrão bem cevadoPrá me sentir batizado/Com a água benta da raça.

Quero nascer no Rio Grande /Cruzar do céu a porteira/Prá entrar na vida pampeana/Pela terra missioneira/Em que o vento a mata abana/E o sol os campos afaga.

Vai ser o verso minha adaga?/Se assim for então aceito/Balanço as rédeas do peito/E nasço em São Luiz Gonzaga!’

E essa foi a sua primeira payada.

Dizem que o Senhor gostou tanto da tirada daquele piazito atrevido, com argumentos tão convincentes, que de pronto concordou com a idéia. E a payada...guardou para Si. Dizem até que Ele a conserva muito bem guardada num lugar especial do CTG que existe na invernada celeste.

E foi assim e por isso que esse índio chucro arribou em São Luiz Gonzaga, de onde saiu a camperear pelas estradas da vida, deixando por onde passou rastros indeléveis de beleza, de encanto e de amor ao pago, até que se aquerenciou na Capital de todos os gaúchos, onde se aninhou faceiro e logo se fez rodear de tantos amigos e admiradores que só um grande coração como o seu pode abrigar.

E é por ser quem é que a vida flui para Jayme como um poema que, a cada dia, recebe nova rima, novo verso e novo tema, que ele, aos poucos molda e burila, na teimosa busca do belo e do perfeito, desde que seja gaúcho.

E é por ser quem é que a vida flui para Jayme também como um grande e interminável combate, em que as duras batalhas, de que às vezes sai meio estropiado, são lutadas uma a uma, embora nem sempre vencidas, na busca do ideal campeiro que incansavelmente persegue para, logo que alcança, reformar, transformar, lançar lá na frente e logo voltar a perseguir.

E é por ser quem é que Jayme recebe hoje o Título Honorário de Cidadão de Porto Alegre, cidade cujo povo, que aqui representamos, lhe retribui na mesma intensidade, o amor e a admiração que Jayme retrata em sua obra por esta terra que o abriga em seu regaço, qual mãe carinhosa e orgulhosa de seu rebento.

Conterrâneo do Jayme, a quem muito admiro também e especialmente como pessoa, e cuja amizade tenho a honra de desfrutar. Foi com a intenção de homenageá-lo que propus que lhe fosse concedida essa honraria muito especial, tornando-o permanentemente nosso, e marcando o seu nome, em ferro e fogo, para sempre, na paleta da posteridade...

Mas não foi só isso. Também tive uma motivação egoísta, que foi a de enciumar o Rio Grande e o Brasil, dando à Capital do Estado e a esta Casa a chance de compartilhar, mais próxima e intimamente, através desse elo de afinidade singular, que hoje estabelecemos, da arte, da amizade e da glória desse, agora também filho de Porto Alegre, Jayme Caetano Braun.

E para o futuro que a cada dia chega, entre o semear de poemas e o arrebanhar de experiências, desejamos todos, Jayme, que tu sigas esbanjando prodigamente esse talento ímpar que Deus te deu e, despacito e sempre, te conserves na ponteira das tropas mágicas que, cantando a vida e a alma do gaúcho, dão-lhes um sentido superior ao do próprio ser regional e fazem delas sólidos elementos da cultura deste povo, que para ser amado precisa apenas ser compreendido.

Entre os Vereadores Jayme é muito querido e alguns  guardam com carinho grandes eventos que com ele participaram, como é o caso do Ver. Cláudio Sebenelo, que em 05 de dezembro de 1973, quando nascia seu filho, recebeu o seguinte poema:

‘Dr. Cláudio

Parabéns nobre Doutor/Pela vinda do Cristiano/Que chegou no fim de ano

Em Pleno verão em flor

Será mais um empreendedor/Para o RIO GRANDE buenacho/E há de ser - segundo eu acho /Cópia do Pai - elegante,          

O índio que se garante/Prá fazer um filho macho!!!

 

Salve 05 de dezembro de 1973!’

 

Também nosso Pedro Américo Leal, que juntamente com João Dib componho a legenda do PPB nesta Casa, recebeu em março de 1987 a seguinte mensagem:

‘Mangueira dos embretados!/aparente redundância/mas o campo santo é a estância/de todos os dispensados,/ali não tem aporreados,/a morte a todos amansa./meus parabéns pela trança/do seu poema, Coronel,/retrato vivo e fiel/do acaso da nossa andança!

 

Pedro Américo Leal!/lindo nome prá um gaúcho,/maneado ao fascínio bruxo/do pampa meridional!/o meu abraço cordial/no chimarrão que levanto,/pedindo a Deus com meu canto/que a falta de competência/não transforme esta querência/num imenso CAMPO SANTO!’

Recebe, então, Jayme, com o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, - todo o carinho de quantos hoje, aqui presentes, te querem bem e te vieram homenagear;

- toda a admiração de quantos, conhecendo tua obra, não se cansam de pedir mais;

- todo o carinho daqueles que, vivendo mais perto de ti, se orgulham de serem teus amigos;

- todo o respeito do povo desta Cidade, que os Vereadores desta Casa se honram de representar.

É essa gente buenaça que está feliz contigo, hoje, Jayme, e que quer te agradecer pelo trabalho que até aqui realizaste, desprendidamente, dando largas à tua fertilíssima criatividade, servindo de modo incontestável ao desenvolvimento da cultura e ao reforço da imagem do gaúcho, como povo de coração generoso, amante da terra e das tradições, patriota de todas as horas.

É esse povo todo que te diz, então, obrigado Jayme Caetano Braun!

Porto alegre, alegremente, te acolhe como seu mais novo filho e cidadão. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Comunicamos que, até há alguns minutos atrás, estava presente o Prefeito da nossa Cidade o Dr. Raul Pont. Não permaneceu porque já tinha compromissos agendados.

Quando se entrega o título Cidadão de Porto Alegre, o ritual prescreve que uma autoridade do Executivo Municipal deve entregá-lo.

Convidamos para fazer parte da Mesa a Ilustre Secretária Municipal da Cultura deste Município Sr.ª Margarete Costa Moraes.

Considerem-se como extensão da Mesa o representante do Conselho de Cidadãos Honorários da Cidade de Porto Alegre e Presidente da Associação Cristóvão Colombo Dr. Jorge Krieger de Mello; Sr.ª Margarida Cassales, representante da Associação dos Jornalistas e Escritores do Brasil; o Sr. Norberto Castro, que representa a Casa do Poeta Rio-grandense; o Sr. Jorge Luís Cidade Lopes, que representa o Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças: o meu Ilustre Prof. Hugo Ramirez, que representa a Academia Rio-grandense de Letras; o já citado por esta Presidência Prof. Mozart Pereira Soares, o Poeta e Escritor Alcides Vargas Cheuíche, o Poeta Vasco de Melo Leiria, o Poeta Luiz Coronel e o conterrâneo Miguel Graff de Vargas.

Vejam que esta é uma noite de poesia, tendo a presença de tão ilustres figuras que honram com a sua presença o Legislativo da Cidade de Porto Alegre.

O Vereador Elói Guimarães está com a palavra, pelas Bancadas do PDT e PT.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Cumprimentando a todos poetas, poetisas, escritores e intelectuais aqui presentes, cumprimento essa figura que é o Dr. Mozart Pereira Soares. Invocando o seu nome, estou citando todos os presentes, também, os irmãos Cardoso Nunes, porque são tantas as autoridades da literatura nativista que seria absolutamente  difícil  nomeá-las  todas.  O  Dr.  Mozart  Pereira  Soares  é,  talvez,  um  dos  homens  mais  cultos,  dessas  últimas  décadas,  do  nosso  País.  (Palmas.)

É uma tarde de profunda emoção que envolve todos e, a todos enlaça, esta tarde em que a Câmara Municipal de Porto Alegre, representando a heterogeneidade da Cidade, homenageia e pranteia a ausência - o poeta maior - sem nenhum sentido, Professor Mozart, de fazer uma dissensão e de colocar aqui um argumento belicoso - da língua rio-grandense. Acho que nós, gaúchos, nós, rio-grandenses, temos a nossa língua, temos a nossa cultura, temos os nossos hábitos. E, no verso, ninguém mais autorizado trabalhou do que essa figura notabilíssima do homenageado, o querido amigo, o grande amigo, essa grande figura, o vate da Pampa do Rio Grande, que é Jayme Caetano Braun. Jayme, de há muito, é cidadão de Porto Alegre. De há muito, é cidadão do Rio Grande. Jayme, de há muito, é cidadão brasileiro. O Jayme, de há muito, é cidadão do mundo, porque, quem canta a sua terra, quem canta a sua querência, quem canta o seu chão é um cidadão universal.

À ponta de pena extraí, de um livro que me presenteou o Jayme, com uma dedicatória, “Bota de Garrão”, dentre tantas obras que produziu, como “Galpão de Estância”, “De Fogão em Fogão”, “Potreiro dos Guachos”, “Pátria Fogões”, “Elegendo” e tantas outras. Teríamos nós que apresilhar na cinta do Jayme, Professor Mozart, um gravador, para que não se perdesse um verso, uma palavra dessa eminente figura do poeta gaúcho. E quando assim falo me vem à mente também Rui Ramos, conterrâneo do Bagre Fagundes, porque o Rui produziu uma obra meritória no campo da retórica, e tudo se perdeu porque não foi para o papel. O Jayme, as suas payadas, aqui, fora do Estado, em outras pátrias, nos galpões, nos microfones, por onde andava, que maravilhas esse homem produziu! E muita coisa não ficou. E o Jayme, como todos nós, é mortal, e essas coisas vão-se perdendo. Será que não é hora, Prof. Mozart, - Capitão Caraguatá -, de nos apercebermos de que temos, urgentemente, de tomar providências para não perdermos essas relíquias, essas pérolas que a inteligência e a sabedoria produzem? Temos que captar essas manifestações, porque o tempo não espera, o tempo passa,  o  tempo  galopa,  o  tempo  anda  rápido.  Esta  homenagem,  e  aqui  vai  um brado  de  insatisfação,  veio  a  passo  de  boi,  ela  tinha  que  se  dar -  aqui  é  uma autocrítica  e  uma  crítica  que  nós  fizemos -,  ela  tinha  que ter vindo há muito tempo.

Consola-nos,  por outro lado,  que o poeta já era Cidadão,  e este ato formal, com suas praxes e formalidades,  dá-se apenas como um ato declaratório,  mas os seus efeitos remontam desde o momento em que Jayme Caetano Braun começou a andar por estas paragens e a  nos  mostrar  a  sua  obra,  a sua cultura,  a  sua  magnífica  sabedoria.

O Jayme nos escuta e, está junto de nós. Nosso prezado  Walter Spalding foi um dos primeiros a acentuar que a poesia desse poeta missioneiro é um dos maiores e melhores repositórios de palavras e expressões gauchescas, valendo, por isso, seus livros, um tesouro. Grande parte do que usa e que é de seu uso comum, nas missões e em outras partes do Rio Grande, jamais foi dicionarizado.

O Professor Mozart Pereira Soares declara que Jayme Caetano Braun detém um posto de exceção em nossa história literária e que o Rio Grande poderá contar, na falange dos seus regionalistas, com poetas mais ou menos cultos, mais ou menos brilhantes e originais, nenhum mais autêntico nem mais espontâneo do que ele, Jayme. Mozart, prefaciando “Garrão de Potro”, coloca: “Olhos de chimango incendiado pelas brasas, ouvidos alertas de quero-quero”. Esse distante neto de Hernandez vai recolhendo e acumulando as jóias daquela linguagem abundante em metáforas que o gaúcho usa espontaneamente, muitas vezes sem saber e sem avaliar bem, cheias de comparações, tão estranhas como freqüentes, em que o autor de Martin Fierro confessa ter escrito sua bíblia crioula:

“Lá fora, campos abertos e largos horizontes,/desdobra-se a paisagem sem paralelo no Sul do Brasil./Não há serranias contorcidas ou convulsas,/nem oceano monótono no Pampa,/mas o dinamismo das coxilhas,/em que a terra se adoça em ondas femininas/e o poncho das pastagens,/riscado pelos fios de prata dos arroios/e riachos bordados de restingas, que as corticeiras ensangüentam,/se alternam como as ilhas verdes dos capões nativos,/de quando em quando, pintados de ouro/pelas canafístulas ou acesos pela fogueira roxa dos ipês em flor./

Vem desta terra a gente dos traços inconfundíveis/do payador das Missões.”

Sua  linguagem é peculiar do gaúcho e a fisionomia do meio singular em que floresce. Mais tarde, os dramas da vida iriam envolvê-lo - a Jayme - cada vez mais estreitamente. Surgiria o terceiro elemento marcante de se poetar a temática social e a nostalgia das tradições e costumes, inexoravelmente, em regressão.

Então, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quem escreve um verso com esse quilate?:

“Quem visse o Tio Anastácio,/Num bolicho de campanha,/Golpeando um trago de canha,/Oitavado no balcão,/Tinha bem logo a impressão/Que aquele mulato sério /Era o Rio Grande gaudério/Fugindo da evolução!”

Vejam a profundidade, a sensibilidade do Poeta, esse imenso coração, essa virtualidade, pelo que produziu ao longo de sua lide, de suas andanças, não poderia estar hoje, longe daqui. Nós conhecemos a fala e o verso do poeta, mas eu acho que nós não conhecemos o coração do poeta. O coração do poeta é muito sensível, é muito delicado. E o Jayme Caetano Braun, essa imensa sensibilidade, não poderia estar hoje aqui. E isso nos emociona, nos convoca a reflexões.

Estamos no meio de intelectuais, de gente culta, de poetas, de literatos. Nós temos que pensar seriamente nessas questões, pois o tempo galopa e anda depressa, e nós temos que fazer alguma coisa. Não podemos perder essas produções do pensamento, da engenharia mental; não podemos deixá-las sumirem aos ventos, perderem-se nas invernadas longínquas. Nós, que tivemos essa dádiva divina, nesta parte meridional do Brasil, de produzir essa virtualidade, temos que pensar seriamente nesses aspectos da cultura.

Minha cara Secretária Municipal da Cultura, Margarete Costa Moraes! Nós somos um imenso caudal, um imenso manancial de produção intelectual nos mais diferentes campos. Mas na literatura nativa, na expressão que vem do chão, dos nossos costumes, esse telurismo que nós incorporamos e reproduzimos no verso, na prosa e no canto, temos que recolher; não podemos deixar que a correnteza do tempo leve isso para as invernadas distantes, tem que ficar na altura do nosso braço.

Então, fica aqui a nossa homenagem, em nome do meu Partido, PDT, e em nome do PT, a esta figura maior da língua rio-grandense. Sem qualquer afirmação dissensionista, sem nenhuma conotação separatista, divisionista, nós temos a nossa língua, e dela nos orgulhamos, dessa forma de expressão. E no verso, ao lado de vates magníficos - e tantos estão aqui e tantas poetisas também estão aqui - nós tivemos, no Jayme, Hugo Ramirez, o nosso querido amigo de tantas tertúlias e galponeadas pelo Rio Grande, nos nossos CTGs, aquela imensa sabedoria, aquela figura elegante do poeta, do payador missioneiro, do homem de pensamento.

Portanto, encerro, Sr. Presidente, agradecendo a V. Ex.ª pela generosidade em permitir que passasse do tempo e deixando a minha homenagem a esta figura imortal de Jayme Caetano Braun. Leve, Aurora Ramos Braun, ao nosso querido amigo, que todos amamos tanto, um grande abraço, um forte quebra-costela, porque nós temos, pelo Jayme, uma admiração que ele talvez não saiba o quanto significa, e nós somos extremamente agradecidos por tudo o que ele fez e por tudo o que ele fará.

Nós queremos pedir a Deus, o Patrão lá de cima, que dê bastante saúde ao Jayme, que o conforte, para que ele volte a suas lides, porque nós precisamos dele, precisamos de suas aulas e de seus ensinamentos, e ninguém o fez tão bem, no verso, quanto ele. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra ao Ver. Lauro Hagemann, que falará em nome do seu partido, o PPS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Prezado Ver. Isaac Ainhorn, Presidente desta Sessão Solene, ilustríssimos membros da Mesa, já nominados, autoridades, Vereadores, Senhoras e Senhores. Eu me inscrevi-me, propositadamente, para falar nesta Sessão em homenagem ao Jayme. A nossa ascendência comum me pede que não desleixe de me referir ao Jayme como uma das expressões mais autênticas do modo de falar dos gaúchos, que se distingue do restante deste País pela peculiaridade regional.

Sei de muitos brasileiros que gostam de ouvir um gaúcho falando, porque tem um sabor especial a “última flor do Lácio”, na nossa expressão. E o Jayme é, indiscutivelmente, um dos melhores intérpretes desse falar gauchesco. Ouvi Vereadores que me antecederam falar na perda desse linguajar quando não se traduz em termos escritos, não se reduz a termo, como dizem os cartoriais. Pois essa é uma característica desse linguajar: dificilmente ele poderá ser reduzido a termo, ele precisa ser ouvido.

E agora, felizmente, a tecnologia moderna tem a gravação, o CD, a fita, o vídeo, todos esses artifícios da modernidade que permitem o recolhimento desse linguajar, desse tipo de expressão. O Jayme mesmo tem alguma coisa gravada.

Mas, infelizmente, entre nós este tipo de divulgação cultural ainda não foi devidamente assimilado pelos nossos governantes. Nós temos uma má memória para as nossas próprias coisas. É lamentável que, daqui a algum tempo, quando se quiser reconstituir a história desse período, os futuros, os pósteros vão se defrontar com muitas dificuldades para recolher exemplos do que foi praticado agora. Assim como nós, hoje, estamos tendo dificuldades de recolher coisas que se passaram há algum tempo e que não foram escritas, não deixaram rastros.

É uma pena que o Jayme não esteja conosco, hoje, para produzir um daqueles seus famosos improvisos, uma payada, que tive ocasião de assistir várias vezes, participando com ele de eventos por esse Rio Grande afora.

Mas a Cidade de Porto Alegre sente-se muito honrada em ter Jayme Caetano Braun entre os seus cidadãos ilustres. Hoje, o Jayme recebe um título que já era dele, é apenas a confirmação.

Gostaria que a Dona Aurora Ramos Braun levasse ao Jayme toda a expressão do carinho do povo de Porto Alegre, representado por esta Casa, que lhe concedeu o título de Cidadão da Cidade.

Temos tido, aqui na Câmara, o privilégio de destacar figuras importantes, de outras plagas. A própria Câmara de Vereadores de Porto Alegre é constituída, em grande maioria, por não-porto-alegrenses, mas isso não diminui a nossa importância. Nós somos o resultado de um cadinho de etnias, de um cadinho de procedências, o próprio Jayme é um deles, eu sou um deles, e muitos outros o são, mas nós sentimos a nossa responsabilidade. A Cidade de Porto Alegre é o epicentro de todo esse processo cultural e histórico da memória do Estado. Nós precisamos preservar isso, e o estamos fazendo, modestamente, hoje, neste ato.

O Jayme merece o nosso carinho e a nossa atenção. Tomara que ele possa estar conosco brevemente, recomposto, dizendo, da maneira como ela sabe dizer, aquelas coisas que nos são muito caras. O Jayme é fruto do telurismo; a força que vem da terra nos influencia a todos; somos frutos do meio em que vivemos, e o Jayme é bem a expressão desse conceito sociológico. Dona Aurora, leve ao Jayme o nosso abraço e nosso carinho. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Reginaldo Pujol, pelo PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Meus Senhores, minhas Senhoras, Srs. Vereadores, eu quero de início, pedir vênia para incluir na minha saudação todos aqueles que foram enunciados pelo Presidente desta Sessão, Ver. Isaac Ainhorn, pelos Ilustres Vereadores que me antecederam, quero que todos se sintam saudados, inclusive os que foram esquecidos, que naturalmente são por mim resgatados nesta hora.

Eu sinto uma alegria muito especial em participar deste acontecimento. Em verdade sabem os nossos colegas que o dia de hoje foi extremamente fecundo para esta Casa, na medida em que vários fatos se interligaram ocupando quase que inteiramente as atividades dos integrantes deste sodalício, o que não me assegurava de antemão a possibilidade de poder estar presente neste momento em que se confirma, no dizer do Ver. Elói Guimarães, algo que o coração e alma desta Cidade já tinha confirmado, a outorga da cidadania ao payador dos pampas, o nosso homenageado do dia de hoje.

Honestamente, só a ousadia que tem caracterizado a minha peregrinação pela vida pública - ousadia já identificada até na circunstância de ser o único representante liberal com assento nesta Casa -, só a ousadia me autoriza a me manifestar nesta hora, na medida em que os pronunciamentos já ocorridos são de tal grandeza que já está plenamente confirmada, caracterizada e evidenciada a homenagem que a Cidade de Porto Alegre faz a esse ilustre filho do Rio Grande.

Essa ousadia tem alguma razão de ser: no fundo eu sou um dos tantos que me identifico na prosa, no verso, no canto do Jayme; no fundo, ainda guardo aquelas vinculações: a vinculação do Ver. Lauro lá da sua Santa Cruz, a do Ver. Elói do seu Santo Antônio, do Ver. João Carlos Nedel de São Luiz Gonzaga, Bossoroca, Cerro Largo, as minhas lá da minha distante Quaraí. Foi lá que, quando pequeno, pela primeira vez ouvi falar nesse ícone da tradição do Rio Grande, nessa legenda das tradições do Rio Grande, que só não é lenda porque assim foi esclarecido por quem o podia.

Mas eu, que era o xucro lá das barrancas do Uruguai, quando vim me aprumando para chegar na Capital, na passagem por Uruguaiana, provavelmente para passar uma graxa nas botas, quando eu aqui cheguei eu era o próprio xucro. Olha que ali na Estação Diretor Pestana eu fiquei abismado porque num interregno de 15 minutos passaram dois ônibus pela aquela avenida que, mais tarde, fiquei sabendo ser a Farrapos. Quando eu vejo, ouço, leio as coisas que o Jayme diz, canta e proclama, fico mexido, tocado, eu volto às minhas raízes e posso perceber esse trabalho bonito com teus irmão que o meu conterrâneo Luiz Menezes, lá de Quaraí, que o próprio Jayme e outros tantos valores do Rio Grande, fazem no sentido de perpetuar a nossa cultura.

Não é apenas um compromisso que temos com a sociedade do Rio Grande, é um compromisso que temos com a verdade histórica que não pode deixar de considerar as circunstâncias de que aqui, no extremo meridional da Pátria brasileira, um punhado de guascas, em um determinado momento, teimou, obstinadamente, por fazer uma opção histórica pela brasilidade. Mas esses brasileiros do sul da Pátria têm um jeito especial de serem brasileiros. E ninguém cantou ou falou melhor sobre o jeito de ser brasileiro aqui neste abençoado torrão de São Pedro do que o nosso querido Jayme Caetano Braun.

Porto Alegre é a Capital de todo esse processo, é o centro para o qual convergem, não só os guascas do Quaraí, não só os homens cheios de esperança de Santo Antônio ou os tantos brasileiros de Santa Cruz, nem somente os nossos amigos de São Luiz Gonzaga: para cá vêm todos os rio-grandenses. Esta Cidade é o símbolo dessa brasilidade diversa, espontânea, convicta, que se afirma e reafirma a todo instante, porque nós aqui somos brasileiros por opção concreta, e não por um determinismo geográfico. Nesta Capital não poderia, não seria crível que o grande símbolo de toda essa expressão cultural não merecesse as maiores e melhores homenagens.

Aliás, Ver. Elói Guimarães, V. Ex.ª tem razão: nós tardamos, porque, antes de nós, o Executivo Municipal, em 1995, houve por bem entregar, com justiça, a Jayme Caetano Braun, a medalha Cidade de Porto Alegre. Neste momento, pedimos permissão a todos para dizer que estamos consagrando aquela máxima, segundo a qual a justiça tarda, mas não falha, e hoje, Dona Aurora, pedimos escusas pelo lamentável atraso. Estamos aqui, dizendo, ainda que tardiamente, em nome do povo desta Cidade, que é a Capital do Rio Grande, centro de todas as tradições, que são o apanágio da nossa gente, hoje aqui estamos, respeitosamente, agradecendo a Jayme Caetano Braun pelo que representa em favor da cultura do Rio Grande, pelo que significa no modo de ser do gaúcho e, sobretudo, agora, pela graça e pela bondade de nos permitir, a partir de hoje, engalanar a galeria de Cidadãos de Porto Alegre com a inclusão do seu ilustre nome.

Era isso que este ousado liberal, com a coragem que caracteriza os homens desta terra, ousou dizer ao final de uma nova ação, que teve o brilho inicial da manifestação do Ver. João Carlos Nedel, que é, sem dúvida nenhuma, a mais fulgurante revelação desta Legislatura Parlamentar, e que num trabalho alentado, ofereceu a todos nós, em trinta e sete folhas datilografadas, um pequeno resumo do tamanho do nosso homenageado.

Eu pedia desculpas ao Nedel, há pouco, que o tamanho do Jayme, sua obra, o reconhecimento público do Rio Grande é tão grande, que eu votei, e, junto comigo, votaram, favoravelmente à sua proposição, todos os Vereadores da Casa, e eu, como muitos, não li o que ele havia escrito, porque não preciso ler nada a respeito do Jayme para decidir-me a fazer justiça para ele, ainda que com algum atraso.

De qualquer sorte, meu bravo companheiro de jornada, seu trabalho é magnífico, está à altura das qualidades pessoais no nosso homenageado, e nele eu encontro uma pequena frase que, pelo seu simbolismo, merece ser a síntese de todo o meu pronunciamento: “Jayme Caetano Braun não é uma lenda. Ele existe. Eu o conheço”. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento, com a deferência e atenção de todos, daremos um seguimento diferente a esta homenagem, mas, próprio da natureza e do estilo do homenageado. Convidamos a poetisa missioneira Thereza Cavalcanti para prestar a homenagem a este que recebe hoje o título de Cidadão de Porto Alegre, Jayme Caetano Braun.

 

A SRA. THEREZA CAVALCANTI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Jayme Caetano Braun, entre tantos amigos que estão aqui para te homenagear, entre tantos poetas e entre os teus conterrâneos, tenho um privilégio: sou tua amiga, sou poeta e sou tua conterrânea. É um grande privilégio! Vou declamar a poesia, de minha autoria em homenagem a este grande poeta:

 

“Jaime Caetano Braun

 

No meu torrão calorento,/donde sopra um morno vento./Vento que na curva assobia,/serpenteia.../e na poeira rodopia,/em espiral vermelha./Se acende a velha centelha/me maneando no arreio,/mesmo assim... dentro de mim,/no tempo, no espaço vareio./Num atávico sentimento,/se bandeia o pensamento/e quando me agarro a lembrar,/para São Luiz... quero voltar.

 

Enredada na lembrança,/ me vem a velha criança, /seguro... sufoco o grito/ lá me vou... “vagarito”... /para não espantar quero-queros./...Sem mais delongas,/nem milongas e boleros/ vou chegando.../...me esparramando./Sou inteira coração,/vou, varada de emoção,/ sola do pé queimando,/ no quente do meu torrão.

 

...Chão de homens valentes/e mulheres belas,/na miscigenação/pinceladas em aquarelas./...Nos meus coloridos matizes/me ufano destas raízes.../Quando em lembranças mergulho,/me inflo de orgulho,/só em pensar de onde venho,/o que carrego, o que tenho.../...Venho daquela longínqua terra,/com trezentos anos de memória,/ donde valorosos ancestrais,/desde tempos imemoriais.../nos legaram a história.

 

Tão longe... bem prá lá.../além da serra... na minha terra,/donde sopra o Minuano, /que chega, com sotaque castelhano./Quero poder merecer/ter nascido nesta terra/e em tudo que nela encerra./Um manancial de poetas,/gigantes... das letras estetas./ Quisera pegar seus fluídos,/espalhados, em tempos idos.

 

Lá... prás bandas do Ximbocu,/nasceu um índio guapo, Xiru/que pelos pampas cresceu./Aos ancestrais glorificou/e versejou a vida inteira/à nossa terra Missioneira./E tanta história contou/que para história.../em vida, ele entrou.

 

Jayme Caetano Braun,/com tua rima/que flui vertente,/retratas a nossa gente,/que até emocionas vivente./Prá te bombear,/me espicho, me estico./‘Não é à-toa, xômico!,/que és de São Luiz Gonzaga’/e rimando... cumpres a tua saga.

 

Quisera eu, estar à altura,/do teu porte, criatura!/Mas na emoção me perco,/ me procuro e faço um cerco,/querendo encontrar a palavra/para te referenciar/e a quero de minha lavra/prá poder te homenagear./JAYME ... em ti espelhas/estas poeiras vermelhas,/incontestes.../entranhadas em tuas vestes./No redemoinho das memórias,/ entreveradas às tuas emoções,/ rodopiam muitas histórias.../que já se fizeram canções.

 

És um valente!/e com teu lenço maragato,/diz o que sente de fato./ Percorrendo tantas terras,/revivendo quantas guerras,/que te entreveras nas peleias/com qüeras, em chilenas e adagas./Nas chulas, sapateias/e, nas danças, se misturam melenas/ com as tranças que tu afagas./Te vejo andejo.../enredado em tantas teias,/ que tenho até lembranças vagas,/de ter te visto em minha infância,/na voz de todo índio xucro/ versejando em cada estância.

 

Te espio, campeireando/por este Rio Grande afora,/no lombo de um cavalo,/ pilchado, com bota e espora./Gaudério... já tanto andaste/que até um pouco te cansaste./ Te enxergo agora.../com a melena branqueada,/pelo tempo e pela geada.

 

Velho JAYME!/és grande... tão grande.../que não te alcanço com a vista./ Carregas, na alma de artista,/um Universo em teu verso,/que às vezes até suspeito,/que este jeito que trazes no peito/é um pedaço da querência,.../que com tanta sabedoria/  incorporastes à vivência./Parece que, em vez de alma,/carregas uma poesia....

 

Eu quero olhar-te gigante,/mas segues tão adiante,/que fica difícil mirar-te,/ na imensidão de tua arte./És bandeira na ponta do mastro/ e eu te vejo como um Astro./ Há muito ... que te persigo no rastro,/faceira, me vou na poeira/que deixas, espalhada no trilho,/e segues ... espargindo teu trilho.”

Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Poeta e Escritor José Machado Leal, que fará sua homenagem.

 

O SR. JOSÉ MACHADO LEAL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, familiares de Jayme Caetano Braun; Srs. Poetas; Srs. Escritores, com a devida licença do nosso Presidente Caio Flávio Prates da Silveira, eu declamo um poema de Jayme Caetano Braun, representando os poetas e os declamadores da Estância da Poesia Crioula.

Divago um pouquinho porque é importante... Eu não lembro bem a data, mas acredito que foi por volta de 1961 ou 1962. Eu era estudante secundarista e compunha a Caravana de Missioneiros que vinha a Porto Alegre para um congresso de estudantes de 2º Grau. Era Governador do Estado o nosso ilustre Dr. Brizola. E o Dr. Brizola fez um discurso muito bonito. O local era na Senhor dos Passos, a Casa de Cultura; logo após, houve um concurso de poesias gauchescas. A primeira poesia longa, de vários versos - que eu havia decorado, louco de medo de esquecer -, eu declamei, naquela noite, e tirei o 1º lugar, foi o “Tio Anastácio”.

Eu peço licença ao Ver. Elói Guimarães, que começou e eu vou concluir. Espero não esquecer, pois há muitos anos que eu não declamo este verso. Dei umas relidas e ele retornou à memória. Quem não conhece o poema de Jayme Caetano Braun mais declamado pelo Rio Grande afora?

 

“Tio Anastácio

Entre a Ponte e o Lajeado,/Na venda do Bonifácio,/Conheci o Tio Anastácio,/Negro velho já tordilho;/Diz que mui quebra em potrilho,/Hoje, pobre e despilchado,/De tirador remendado/Num petiço doradilho...

Quem visse o Tio Anastácio,/Num bolicho de campanha,/Golpeando um trago de canha,/Oitavado no balcão,/Tinha bem logo a impressão/Que aquele mulato sério/Era o Rio Grande gaudério/Fugindo da evolução!

 

A tropilha dos invernos/Tinha lhe dado uma estafa,/E aquela meia garrafa,/ Dentro do cano da bota,/Contava a história remota/Do negro velho curtido/Que os anos tinham vencido/Sem diminuir na derrota!

 

Mulato criado guacho/Nos tempos da escravatura,/Aquela estranha figura/ na vida passara tudo;/Ginetaço macanudo,/Já desde o primeiro berro/Saía trançando ferro/No potro mais colmilhudo!

 

Carneava uma rês, num upa,/Com toda a calma e perícia!/Reservado e sem malícia,/Negro de toda a confiança,/Benquisto na vizinhança,/Dava gosto num rodeio,/ De pingo alçado no freio/Pealando de toda a trança.

 

Tinha cruzado as fronteiras/Da Argentina e do Uruguai;/Andara no Paraguai,/Peleando valentemente,/E voltara, humildemente,/Como tantos índios tacos/ Que foram vingar nos Chacos/A honra da nossa gente!

 

Caboclo de qualidade/Que não corpeava uma ajuda,/Na encrenca mais pele aguda/Sempre conservava o tino,/Garrucha boca de sino/Carregada com amor/E um facão mais cortador/Do que aspa de boi brasino!

 

Porém depois que os janeiros/Foram ficando à distância,/Andou, de estância em estância,/E foi vivendo de changa;/Repontando bois de canga,/Castrando com muita sorte,/E, em tempos de seca forte,/Arrastando água da sanga

 

Ficou sendo um desses índios/Que se encontra nos galpões/E ao derredor dos fogões/Fala aos moços, com paciência,/Do que aprendeu na existência,/Ao longo dos corredores,/Alegrias, dissabores,/Curtidos pela experiência!

 

Tio Anastácio prá aqui;/Tio Anastácio prá cá ../Mandado mesmo que piá/ Por aquela redondeza;/Nos remendos da pobreza,/Entrava e passava inverno,/Como um tronco, só no cerno,/Pelegueando a natureza!

 

Por isso é que nos bolichos/Só se alegrava bebendo/Como se cada remendo/ Da velha roupa gaudéria./Fosse uma sangria séria/Por onde o sangue do pago/Se esvaísse, trago a trago,/Por ver tamanha miséria!

 

E até parece mentira/- Negro velho de valor! -/ Morreste no corredor/Como matungo sem dono;/Não tendo, nesse abandono,/Ao menos um companheiro/Que te estendesse o baixeiro/Para o derradeiro sono!

E agora que estás vivendo/Na Estância grande do Céu/Engraxando algum sovéu/Prá o Patrão velho e buenacho,/não te esqueças cá de baixo,/pois a lo largo ainda existe,/muito chiru velho e triste,/como tu, criado guacho.”

Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Após essas duas extraordinárias manifestações poéticas, que esta Casa vem assistindo nesta Sessão, nós vamos proceder à homenagem de entrega do Título de Cidadão, à Sr.ª Aurora Ramos Braun, esposa do homenageado.

Convidamos o autor da iniciativa, Ver. João Carlos Nedel, para que aqui compareça e faça a entrega do Título de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Jayme Caetano Braun. Solicitamos também, na forma protocolar, à ilustre Secretária da Cultura desta Cidade, que faça a entrega da medalha correspondente a esta concessão de cidadania ao nosso homenageado, na pessoa da sua esposa, representante do nosso homenageado, Sra. Aurora Braun. Solicitamos a todos que, de pé, assistamos a essa entrega.

 

(É feita a entrega do Título e da medalha.)

 

Registramos a presença das irmãs do nosso homenageado: a Sr.ª Judite Braun de Oliveira e a Sr.ª Zélia Caetano Braun; também da sua cunhada Cristina Sirângelo Braun. Tenho a honra de conceder a palavra a Sr.ª Aurora Ramos Braun, representando o nosso homenageado.

 

A SRA. AURORA RAMOS BRAUN: Srs. Vereadores, muito obrigada! O Jayme está muito feliz com o carinho e a amizade dos amigos. Mandou um recado aos Senhores, parafraseando o grande poeta Figueiredo Pinto: “Meu amigo Vereador, fico até o resto da vida, porque este rincão convida, prá que se fique morando”. Muito obrigada.

Obrigada, Srs. Vereadores, obrigada Porto Alegre que, tenho certeza, hoje está mais rica, porque adotou um filho ilustre como Jayme Caetano Braun. Meus parabéns!

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos todos para ouvir, em pé, a execução do Hino Rio-Grandense. 

 

(É executado o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecendo a presença de todos damos por encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 21h20min.)

 

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